[Esse texto veio montado na minha cabeça ontem à tarde, e escrevi de madrugada. Foi como uma cena de filme que chegou na minha mente, foi uma coisa muito estranha... Espero que gostem.]
Chegou à festa sozinha porque não conhecia ninguém. Havia apenas um rosto conhecido entre todos, a razão para ter ido até lá, naquela casa. As pessoas eram estranhas, falavam outra língua, um ambiente completamente diferente do seu. Mas aquilo não a impediu de viajar para poder encontrá-lo.
Todos se vestiam com elegância e, exceto algumas crianças, eram todos adultos. Era uma festa de negócios, com certeza comemoravam algum êxito da empresa. Enquanto andava pelo salão, a mulher observava todos à volta, na esperança de encontrá-lo rapidamente. Duas crianças passaram correndo ao seu lado e foram ao encontro de um home, que se agachou para falar com elas. Assim que se levantou, seus olhares se encontraram.
Era ele. Mesmo depois de tanto tempo sem se verem os dois se reconheceram na hora. O homem parecia assustado, mas não podia deixar transparecer, não na frente de todas aquelas pessoas. Outra mulher se aproximou dele, deu-lhe um simples beijo, e se misturou de novo entre os convidados. Num gesto discreto, ele chamou a recém-chegada para acompanhá-lo.
Foram até o jardim, que estava perfeitamente iluminado e com uma decoração impecável. Não havia ninguém lá, a festa acontecia dentro da casa. Assim que estava certos de que estavam a sós, o homem se virou e disse:
-O que faz aqui Lilian?
Ela sorriu um pouco triste, mas respondeu com carinho:
-Depois de todos esses anos sem nos vermos essa é sua primeira pergunta?
-Não faça brincadeiras, não é hora para isso. O que veio fazer aqui?
-É proibido querer visitar um velho amigo? Senti saudades Marcus, só isso.
-Não é tão simples assim. Você não viajaria até aqui só porque sentiu saudades. O que quer?
Aquela era a reação mais óbvia que ele poderia ter, mas Lilian esperava que fosse diferente, que fosse mais amorosa. Queria sentir que ele também sentiu sua falta, mas muita coisa havia acontecido desde que se separaram. Tentando não se mostrar abalada pelo tratamento rude que recebia, ela disse:
-Tem razão, eu não vim aqui à toa. –sentando-se num banco próximo à fonte, falou olhando para ele. – Vim dizer tudo aquilo que não falei quando você foi embora.
Marcus soltou um riso irônico e sentou em outro banco, ficando de frente para ela.
-Não acha um pouco tarde para isso? Não sei se você percebeu, mas já se passaram 15 anos!
-Desde quando você se tornou alguém tão defensivo? Sim Marcus, eu percebi que o tempo passou. E não, eu não acho que seja tarde. Na verdade, até peço desculpas por ter demorado tanto para ter vindo. Você pode pensar o que quiser sobre essa minha visita surpresa, mas o que eu tenho para dizer é importante e você vai ouvir cada palavra.
-Quem vai me obrigar a ficar aqui? Ora Lilian, nós dois sabemos que tudo já foi dito. Não há o que discutir.
Ela tirou um pacote da bolsa e mostrou a ele.
-Se você não me ouvir, eu jogarei isso no meio da sala.
-O que...?
-É uma bomba. Nunca pensei que chegaria a esse ponto, mas você não me deixa escolha.
Ele estava boquiaberto, sem saber se acreditava ou não naquilo. Decidiu manter a calma.
-Tudo bem, vamos conversar, sem problemas.
-Ótimo. Sabia que poderia contar com seu apoio. – ela guardou o pacote e prosseguiu: - Você acaba de dizer que tudo o que precisava ser dito já foi. Está errado. Naquele dia, há 15 anos, você foi único que falou, não me deu a chance de opinar. Tive que ouvi-lo dizer coisas horríveis, sem entender nada do que estava acontecendo.
-Então é isso? Veio me perguntar o porquê de eu ter te deixado?
-Não só isso. Vim também te parabenizar. Afinal, chegou onde queria. Carreira de sucesso, uma empresa rica, uma família perfeita. Seus filhos são lindos. – Lilian deu um pequeno sorriso. – Qual o nome deles?
Antes de responder, Marcus a olhou com atenção. O que seria aqulo no olhar dela? Tristeza? Será que ainda se lembrava das promessas e planos que haviam feito para o futuro?
-Taylor e Catherine. – ele respondeu. Eram os nomes que haviam pensando em dar para seus filhos, caso ele e Lilian ficassem juntos.
Sem parecer muito abalada com aquilo, ela sorriu:
-Parabéns, são duas crianças maravilhosas. – remexendo na bolsa, tirou um maço de cigarros e acendeu um, tragando profundamente.
-Não sabia que fumava.
-Tem muita coisa que você não sabe sobre mim Marcus. Eu mudei muito desde a última vez que nos vimos. Não sou tão idiota como antes, faço tudo o que tenho vontade e principalmente não sou aquela garota frágil e covarde que você conheceu. – tragando de novo, ela soltou a fumaça lentamente e continuou: - Olha só para mim: 33 anos, jornalista, dona de uma das revistas mais importante do país, e estou no lugar que achei que nunca teria coragem de vir. Na França! E na casa do meu ex-noivo! Confesse Marcus, eu mudei muito.
-Lilian, por acaso você está bêbada?
-Não dá para encarar uma conversa séria dessas sem um gole de vodka. Isso é o que eu chamo de tomar coragem. – e riu sem emoção, pegando outro cigarro. – Mas não se preocupe, estou sóbria o bastante para saber o que estou dizendo.
Ficaram alguns segundos se encarando, talvez se lembrando do seu último encontro. As lágrimas (dela), os gritos (dele), e um adeus súbito, sem muitas explicações, que ainda causa dor (talvez em ambos).
-Eu sempre soube que você é calculista e pensa em seu próprio sucesso. Mas confesso que você me surpreendeu Marcus. Desistiu do nosso casamento, deixou tudo para trás e veio para cá munido de esperança. E eu continuei lá, tentando entender o que tinha acontecido.
-Lilian... – ele tentou começar, mas ela levantou a mão.
-Por favor, deixa eu falar tudo. Prometo que serei rápida e irei embora assim que terminar. Você se lembra por que nos encontramos aquele dia?
-Você queria me contar uma novidade.
-Na verdade eram duas. Mas quando eu tentei falar você deu a notícia de que viria para a França trabalhar na nova filial do seu pai, e deixou tudo para trás, inclusive sua família.
-Não é verdade, meus pais vieram comigo!
-Eu quis dizer sua nova família.
Os olhos de Marcus se arregalaram quando entendeu o que ela quis dizer. Sua boca abria e fechava, mas nenhum som saía. Lilian apagou o resto do cigarro com o sapato enquanto dizia:
-Eu estava grávida Marcus. Essa era uma das novidades. Tinha acabado de voltar do médico. Era recente, só tinha 6 semanas. – olhou para ele e continuou: - Mas depois de tudo eu sofri aborto espontâneo. Segundo o médico foi por causa do meu emocional. Mas faz tanto tempo que nem lembro a explicação.
De novo o silêncio pairou entre os dois. Não sabia há quanto tempo estavam ali, isso já não importava. A boca de Marcus estava seca, sua cabeça começava a doer, mas queria saber de tudo.
-Ah, o silêncio... – Lilian ria sozinha, talvez pensando em alguma antiga conversa dos dois. – Mas esse não é o silêncio que antecipa um beijo... Esse é mais pesado. Deve ser o silêncio que enfrentamos sozinhos, cada um à sua maneira, durante 15 anos. Talvez eu devesse perguntar se eu fui real para você. Ou melhor, se todas as promessas foram reais. Só que a resposta já foi dada.
Ela se levantou e foi até ele. Mateve contato visual e falou mais baixo:
-Eu quero te beijar. Quero tocar você, sentir que estamos juntos de novo... Mas para quê?! Para correr o risco de sermos flagrados? Além do mais, isso só seria uma coisa passageira. – sem avisar, Lilian começou a desabotoar o vestido.
-O que pensa que está fazendo?! – Marcus levantou e a segurou pelos pulsos.
-As promessas que fiz eram verdadeiras. Mas só uma eu consegui manter. A de que nunca tiraria você do coração.
Ao olhar para baixo, Marcus percebeu que a frente do vestido dela estava aberto, revelando o seio esquerdo nu. Ao lado, tinha uma tatuagem com seu nome e um símbolo de infinito junto. Não podia acreditar naquilo, e sentou-se no banco de novo.
-Eu me senti tão idiota quando fui fazer essa tatuagem, mas ao mesmo tempo tão contente... Foi meu modo de dizer o quanto a promessa que fiz é verdadeira. Só que não tive a chance de mostrá-la.
Fechou o vestido e voltou ao seu banco para pegar a bolsa. Havia dito a si mesma que não iria chorar, mas as lágrimas já molhavam seu rosto. Mesmo assim, falou com a voz firme:
-Não tem nenhuma bomba comigo. Na verdade, a bomba eram minhas palavras. Mas era o único jeito de te fazer me ouvir. Você sempre se assustou fácil. – acariciou o rosto de Marcus e o fez olhar para ela. – Essa é a última vez que você me viu. Vou embora para sempre, e não voltarei. Calma, não vou me matar. Só irei seguir em frente. Consegui te dizer tudo, apesar de ter demorado, e agora serei capaz de dar meus próprios passos sem pensar no dia que conseguiria vir até aqui. – limpando o rosto, Lilian sorriu. – Acho que ainda sou frágil... Só preciso dizer mais uma coisa. Eu amo você Marcus, e nunca te odiei pelo o que houve. Estou orgulhosa por ter conseguido tudo o que sonhou, de verdade. Sabe que sua felicidade é a minha também. – ela deu as costas e foi até um pequeno portão (a saída dos fundos). Olhou para Marcus, que chorava, e disse por fim: - Adeus meu amor.
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Que bonito Twin
ResponderExcluirPois é, as vezes o final feliz é você, sozinha, tentando seguir em frente(frase clichê do filme Ele não está tão afim de você, mas faz bastante sentido)
Que saudade dos seus textos!<3
http://ondevaoasnuvens.blogspot.com
oh my lord!
ResponderExcluirQue texto perfeito, Dora!
Nossa, me prendeu do início ao fim. Acho que é, sem dúvidas, um dos meus favoritos.
Fico muito feliz que o Little Diamonds esteja de volta.
Um beijo!
http://pontadeimpacto.blogspot.com/
q texto perfeito Dora!
ResponderExcluirestou de queixo caido, acho q nem pisquei qnd estava lendo ;')
adorei :*