Sacrifício
Era uma guerra. Eu ouvia os
tiros de canhão explodirem por todos os lados, os gritos dos soldados e outros
barulhos. Alguns homens tentavam se esconder entre as árvores, e mesmo assim
ainda eram atingidos. E eu corria entre eles. Era noite, estava frio, e eu
precisava encontrar alguém. Não o encontrava em lugar nenhum e já estava me
preparando para o pior. Mesmo assim, não desistia. Ouvia muitos homens gritando
comigo, mas os tiros abafavam qualquer ordem que me davam.
Continuei correndo, talvez
em círculos, mas corri até minhas pernas não aguentarem dar mais um passo. Foi quando
percebi que havia chegado em uma clareira. Eu apenas rezei para que aquele que
eu procurava estivesse a salvo. Eu estava cansada demais para voltar ao meio da
batalha. E aquela clareira estava silenciosa. A sensação de não ouvir mais nada
era boa. Olhei em volta, a lua iluminando parcialmente a floresta. Então, vi
uma pequena cabana, quase escondida nas sombras.
Andei até lá. Eu queria
descansar, ou apenas beber um pouco de água. Bati na porta e logo fui atendida.
Dentro da cabana era quente, aconchegante, quase como um abrigo. Foi um homem
alto quem me recebeu. Tão alto que seu rosto ficava nas sombras, onde a luz de
uma vela não alcançava.
Assim que ele fechou a
porta, todo o meu medo passou. Era como se tudo de ruim ficasse lá fora, longe
da guerra. Mas a voz do desconhecido me tirou de meus pensamentos.
-Você sabe o que deve fazer
para salvar aquelas pessoas.
Eu tentei olhar seu rosto,
mas não dava para enxergar nada. Neguei com a cabeça, não sabia do que ele
estava falando. Senti sua mão em meu ombro e ele repetiu:
-Você sabe.
E então, de algum modo, eu
entendi. O medo voltou, mas eu sabia que aquilo iria terminar com tudo.
Concordei.
O homem ficou atrás de mim e
colocou as mãos aos lados do meu rosto. Ouvi sua voz sussurrar algo que não compreendi,
e logo suas mãos se juntaram às minhas e ele repetiu o mantra.
Comecei a me sentir leve, e
ao mesmo tempo meu corpo parecia não se sustentar. Eu tentei ficar em pé, mas
me apoiei ao homem, que não parava de sussurra. Fui me sentindo cada vez mais
fraca, mas a sensação não era ruim. Era como adormecer, só que numa proporção
muito maior. Não tinha como lutar contra aquilo.
Meus joelhos cederam, e
senti suas mãos me segurarem pelos ombros. Fui caindo quase em câmera lenta,
como se estivesse desmaiando. A sensação de leveza já tomava meu corpo, estava
quase todo dormente. Não havia mais tempo para pensar.
Eu estava morrendo. A qualquer
momento eu iria morrer. O homem não era um assassino. Ele fez o que devia. Eu cumpri
a profecia. Minha morte iria acabar com a guerra e com o sofrimento de todas as
pessoas. Não só os soldados, mas se duas famílias também.
Não havia medo em mim. Nem arrependimento.
Meus familiares iriam entender. Não havia mais volta. Eu estava bem.
Eu finalmente pude descansar.
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