Lions, lambs and masks

A garotinha se perdeu em seu próprio conto de fadas


Andou por bosques, castelos, casas

Sem rumo nenhum

Qualquer trilha era um caminho

Até que se perdeu de vez

E chegou a um mundo estranho

Ruim

Hostil

Habitado por seres que usavam máscaras

E que nunca mostravam o verdadeiro rosto

Mas a garotinha era ingênua demais

Burra demais

Não percebeu o que estava acontecendo

Todos se aproximam

Por puro interesse

Não existia ninguém realmente bem intencionado

Naquele mundo novo

A garotinha se encantou pela simpatia,

Pelos sorrisos, vozes, olhares

Apaixonou-se pelas máscaras

Sem notar que sugavam sua energia vital

Todos sorriam

Eram carinhosos

Verdadeiros lobos vestidos de

Fracos cordeirinhos

As máscaras eram mansas

Davam e recebiam amor

E a cada dia mais

A garotinha gostava deles

(Idiota)

Aos poucos ela foi se tornando

Igual a todos

Mas uma voz em sua consciência pedia,

Implorava

“Seja você mesma”

Só que era tão fácil ser como eles

Ter uma máscara para esconder

Os sentimentos,

As verdades

“Não se esconda!”, gritava a voz

E a garotinha não quis mais ouvir

Certo dia então,

Enquanto passeava com seus

Amigos

Ela os ouviu sussurrar

“Hoje nós jantaremos carne fresca”

E todo seu corpinho ficou arrepiado

A consciência tentara avisar

Mas já era tarde demais para pedir

Perdão

Havia sido enganada por aqueles seres

Bondosos, queridos

Hipócritas!

(será que ela sabe o que isso significa?!)

Tinha que pensar rápido

Precisava fugir

Só que não se lembrava do caminho

Teria que se arriscar

Ao voltar para o mundinho

A garota correu para a floresta

Teria que encontrar seu próprio caminho

Sua trilha de volta

Correu sozinha

Tentando não chorar

Mas as lagrimas saltaram de seus olhos

Quando ouviu que era perseguida

Eles iriam alcançá-la

Os cordeiros corriam sobre quatro patas

Rápidos demais

Famintos demais

Ela correu pensando

“Vou morrer”

“Sim, você vai”, respondeu a consciência

Assustada, a garotinha caiu

E logo foi rodeada

Pela alcatéia em pele de lã

Os cordeiros uivaram

E as máscaras caíram

Dentes afiados, garras enormes

E pelo escuro

Essa é a verdadeira essência

De todos

Um monstro por dentro

Um anjo por fora

Sorriam para ela

Salivaram para seu corpo trêmulo

Um deles se aproximou

E toou-lhe o rosto

Tinha uma pata quente

Quente como o toque de um

Amante

“Por que choras minha querida?”

“Vocês me enganaram,

E agora irão me matar”,

Ela disse entre soluços

Toda a alcatéia riu

“Não te enganamos,

Você enxergou pessoas boas,

Quando na verdade somos assim.

Nunca confie em sorrisos de estranhos.”

A garota levantou-se

E gritou:

“MORRAM! Mentirosos! Monstros!”

Quis bater em todos

E seus músculos não lhe obedeciam

Como bater em alguém que ela amou tanto?

“Eu amei vocês...”

Burra... Idiota...

“Nós iremos amá-la

Quando você for nossa comida.”

Tarde demais para fugir

Tarde demais para pensar

Deitou-se na terra fria,

Fechou os olhos e sussurrou:

“Então eu quero ser amada”

As primeiras mordidas doeram,

Sua roupa branca, símbolo de pureza,

Manchou-se de vermelho

Era agora chapeuzinho vermelho

Vermelho de sangue

Vermelho de vergonha

Vermelho de amor

Podia sentir a cada mordida,

A cada lambida,

E pelas respirações quentes

Que estava sendo amada

Verdadeiramente amada

Por seres tão falsos

Eles precisavam dela

E ela os ajudou

Ouviu um último uivo

E sua consciência fraca,

Quase morta,

Disse-lhe:

“Adeus... Eu”

A garotinha suja

Riu sozinha

“Adeus vida.”