Sentou-se no canto da sala com um maço de cigarros e uma caneca de café. Olhou para o apartamento vazio, branco, recém-aberto para ela. As caixas se amontoavam pelo caminho, algumas abertas e outras ainda lacradas. Tirou apenas a cafeteira de dentro de uma delas para fazer sua bebida de boas-vindas.
Não conhecia ninguém naquele lugar, o que era uma coisa boa. Afinal, saíra de casa justamente para isso: mudar. Conhecer pessoas novas. Desafios novos. Liberdade demais pode assustar às vezes, mas ela realmente precisava daquilo. Mas não era a primeira vez que se mudava. Já havia saído da casa dos pais há alguns anos – ou foram meses?
Agora havia saído da casa daquele que a convencera a sair do ninho, a convencera de que o mundo era mais do que viver dependente dos pais. Aquele que a ensinara coisas sobre o mundo, a vida, emoções, sentimentos... O rapaz que a ensinara a viver intensamente, de verdade, sem mais máscaras ou medo.
E agora ali estava ela. Sentada no novo apartamento, sozinha, fumando um cigarro atrás d’outro, sem se importar com as lágrimas que desciam pelo rosto e pescoço, borrando o lápis e o rímel que passara de manhã. Não se importava, ninguém estava vendo. Ninguém.
Ainda estava com o gosto dele na boca. Tomou um grande gole de café e se xingou mentalmente por queimar a língua. Ainda sentia o toque dele pelo seu corpo, as mãos que a marcaram à fogo, produzindo arrepios involuntários sempre que se aproximavam. Tremeu de novo, dando espaço aos soluços que rasgavam seus pulmões.
Amar é algo difícil. Requer esforço, algumas noites de insônia, músicas românticas e uma playlist de músicas dramáticas. Exige carinho, confiança, respeito, lágrimas e dor. E você precisa ser forte para agüentar tudo isso. Às vezes aos poucos, às vezes tudo acontece de uma só vez. Um sorriso vira tristeza, a risada vira lágrima, e depois disso um buraco é aberto em seu peito e em sua mente. Todos os pensamentos são sugados para esse grande buraco negro chamado amor.
E ela estava ali, pensando em tudo isso. O que faria agora? De onde tiraria forças para levantar daquele canto da sala e desempacotar sua nova vida? Para quem iria ligar quando tivesse um pesadelo? Para quem iria contar suas idéias para o novo livro que iria escrever? Quem iria lhe dar inspiração? Quem iria beijá-la antes de dizer “boa noite”?
Teria que reaprender a viver sem ele. Sair do apartamento dele no meio de uma briga pode não ter sido uma boa idéia, mas pelo menos poupou alguns gritos e mais lágrimas. Mais lágrimas? Mais do que essas que sujavam seu rosto? Ao menos não iriam mais brigar, gritar um com o outro, dizer pela milésima vez todos os erros que cometeram antes e durante o namoro.
“Ele não vai voltar...”
Precisava dar um jeito em sua vida. Olhou para o apartamento branco. “Preciso pintar essas paredes. Talvez colar algumas fotos. Ou pintar tudo de preto.”
Tomou mais um gole de café e esperou os tremores passarem. Nada melhor do que lágrimas para limpar a maquiagem. Nada melhor do que o café para aquecer o corpo e tirar gostos da boca. Nada melhor do que um novo apartamento para recomeçar.
“Ele não vai voltar... Está tudo acabado.”
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Chorei :\
ResponderExcluirMuito muito muito perfeito.
Parabéns, teus textos estão cada vez melhores!
Beijos *-*
Caramba, me impressiono com a sua criatividade e sensibilidade em escrever! Tento colocar minha ideias no papel, mas quase nunca consigo. Parabéns, o texto tá perfeito.
ResponderExcluirBeijos, Paati'
http://livros-resenhados.blogspot.com/
Obrigada meninas! Muito bom saber que gostaram!
ResponderExcluirBeijos pra's duas!
Ai que lindo Twin ;^;
ResponderExcluirGostei muito de verdade, o sentimento veio profundo
Adoro essas suas histórias de separação
Se cuida!!
beijos
http://ondevaoasnuvens.blogspot.com
Muito legal isso que vc faz, Dora, texto com música! Dá outro panorama pra história!
ResponderExcluirParabéns, bjs
Obrigada Twin ^^ eu tenho uma certa facilidade com textos triste - e isso às vezes me incomoda xD mas que bom que você gostou!!!
ResponderExcluirE Torres, eu 'roubei' essa ideia de uma outra blogueira que eu sigo =D é bem mais legal com trilha sonora né?
Obrigada!!