Não para

Correndo pela rua molhada pela chuva. Ela e a rua, atingidas pelas mesmas gotas.

Mas no rosto dela, gotas mais salgadas caíam. As mesmas que manchavam sua maquiagem, as que a ajudavam a dormir, as que a ajudavam a lembrar que a dor ainda existia. E que faziam seu coração se encolher em posição fetal embaixo do cobertor.

Trovões irrompiam do céu, e os soluços sacudiam seu coração. Torcia para que não aparecesse nenhum carro naquela rua deserta, ao mesmo tempo em que desejava ser atropelada de vez. Só olhava para os pés, o chão ficando cada vez mais embaçado pelas lágrimas, a bolsa que socava suas costelas, e os cabelos que grudavam no rosto.

Sentia raiva de si por ainda se submeter a tanto sofrimento. Queria gritar tudo o que seu coração berrava quando estava sozinha, porém, o simples fato de ouvir aquele nome a fazia calar. Desejava poder dar um basta em toda aquela história suja, de dor e amo unilateral. E quando achou que estava pronta para isso, tudo se reverteu e ela foi vencida de novo.

Vencida pelos olhos, boca, sorriso, beijos e palavras. Nocauteada pelas promessas repetidas, aquele tom de voz ao pé do ouvido que faria até a mais forte das mulheres cair a seus pés. E pela enésima vez, havia acreditado em tudo. Só quando ele lhe disse “Até algum dia” ela percebeu que caíra na armadilha.

E agora, naquele momento, correndo contra a chuva, percebeu então o quanto jogara a vida fora, esperando ele mudar, fantasiando sua volta. De novo o casal mais lindo da faculdade.

As engrenagens foram rodando, ele se moveu com o tempo, e ela se prendeu aos segundos do passado.

Mas o tempo não para.

Não espera.

Não perdoa.

O tempo é único e infinito. A maior armadilha da vida.

Ela se perdeu em um passado que fazia parte de seu presente, e nunca mais seria seu futuro.