Rosa de férias

A rosa ainda estava ao seu lado quando acordou cedo.

Com a cabeça latejando de dor, provavelmente mais um efeito colateral da noite passada, sentou-se na cama e observou a flor que dividira a cama consigo. Como foi parar lá?

“Preciso de um café.” , pensou, indo em direção à cozinha, mas mudou o rumo e foi para baixo do chuveiro. Só teve consciência do que fazia quando a água gelada atingiu suas costas, despertando seu corpo e sentidos de uma vez só. “Droga, por que eu tinha que ter ido àquela festa?!”, protestou sozinha.

Preparou o café com dificuldade, a cabeça doía tanto que seus olhos estavam ficando embaçados. Achou que nunca poderia beber tanto novamente quanto o fizera, e prometeu que realmente não o faria. Só se lhe dessem a garantia de não sofrer com a ressaca. Com o líquido preto fumegante, engoliu três comprimidos de uma vez e voltou para a cama, temendo cair enquanto andava pelo apartamento.

Pegou a rosa e a encarou por alguns minutos. De onde teria vindo? Teria roubado de algum jardim ou alguém lhe dera de presente? Sua mente estava confusa, as imagens se misturavam e não conseguia se focar no que queria: descobrir o que era aquela flor rosa.

Passou mais um tempo pensando, fazendo o maior esforço possível. Mas não tinha como se lembrar se nem sabia o que havia acontecido direito. Brava com ela mesma, colocou o travesseiro sobre o rosto e dormiu.

Teve um sonho muito lívido... Via-se numa rua, em frente a um bar. Olhava o relógio de pulso a cada minuto, inquieta, com aquela terrível sensação de abandono. Estava quase desistindo de esperar quando ouviu seu nome ser chamado, e um rapaz chegou correndo. Seu jeans e tênis estavam ensopados, sinal de que não tomara cuidado em desviar das poças formadas pela chuva daquela tarde.

Quase não conseguia falar, e ia tentando tomar fôlego ao mesmo tempo que dizia:

-Não quero que você vá embora sem uma lembrança minha.

E estendeu a mão, com aquela rosa enorme para ela, que ficou sem palavras para retribuir. Apenas pegou a flor sorrindo, e levou o rapaz até uma boate, onde dançaram e beberam até o amanhecer.

Acordou assustada, respirando rápido como se houvesse corrido uma maratona. A rosa estava em sua mão, e suas pétalas já estavam quase murchas. “Então foi ele...” . Seus olhos queriam chorar, mas ela ignorou-os e deu um beijo na flor.

Já estava tudo encaixado. Daqui a algumas horas, o caminhão da mudança chegaria para levá-la de volta à antiga cidade. Em pouco tempo de férias, ela havia se apaixonado de verdade, e sua pequena história de amor estava em seu fim.

Esperou pelo caminhão na cozinha, bebendo o resto de café que ainda estava na xícara. Ao mesmo tempo em que estava ansiosa para voltar, sentia que estava esquecendo alguma coisa... Um sentimento que talvez não sentiria em nenhuma outra ocasião. Tirou isso da cabeça quando ouviu a campainha tocar. Chegara a hora de dizer adeus.

Mas ao abrir a porta, seu coração deu um pulo. Era aquele mesmo rapaz de seu sonho, com uma placa improvisada feita de papelão, com letras garrafais que diziam:

FIQUE AQUI COMIGO.

A rosa caiu no chão. Ainda dava tempo de cancelar a mudança.


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